LUCAS
Autor Lucas
O Evangelho de Lucas e o livro de Atos foram claramente escritos pela mesma pessoa (cf. 1.1-4; At 1.1). Embora nunca tenha se identificado pelo nome, a autoria fica clara a partir do uso da primeira pessoa do plural em muitas secções de Atos nas quais ele foi uma companhia próxima do apóstolo Paulo (At 16.10-17; 20.5-15; 21.1-18; 27.1-28.16). Entre os companheiros que Paulo menciona em suas próprias epístolas (Cl 4.14; 2Tm 4.11; Fm 24), Lucas é a única pessoa que se encaixa no perfil de autor desses livros. Isso está em perfeito acordo com a tradição primitiva da igreja que, com unanimidade, atribuía este Evangelho a Lucas.
Data 60 – 61 d.C.
Verso “Em Lucas Jesus é o Filho nascido que busca e salva o homem perdido.”
Versículos chave 19.10; 1.3-4
Propósito Demonstrar historicamente que a mensagem do Reino, conforme pregada aos gentios para a sua salvação era uma continuação legítima do plano de Deus à luz de como Israel rejeitou Jesus como seu Rei.
Mensagem A mensagem soberana do Reino foi estendida a todas as nações por meio da rejeição de Israel para com Jesus, o Filho do Homem, como o seu Messias.
Contribuição para o Cânon (Porque este livro está na Bíblia?)
- Mostra a plena humanidade de Cristo como o Homem ideal.
- Apresenta e fortalece o evangelho universal (para gentios) e coloca o evangelho ao alcance dos gentios.
- Contribui significativamente para o nosso conhecimento sobre a oração, a vida de Jesus e o Espírito Santo.
Esboço
- Prólogo (1.1-4)
- Preparação (1.5-4.13)
- Nascimento e juventude de Jesus (1.5-2.52)
- Preparações: João, Batismo, Genealogia (3.1-4.13)
- Proclamação / Apresentação – Aceitação / Oposição (4.4-19.28)
- Galiléia: Milagres e instruções (4.14-9.50)
- Caminho para Jerusalém: Delegação de autoridade, instruções (9.51-19.27)
- Pereia (9.51-18.30)
- Jerusalém (18.31-21.38)
- Propagação: Última semana em Jerusalém (19.28-24.53)
- Crucificação e inocência (22-23)
- Ressurreição / Ascensão (24)
Pontos notáveis
- O Evangelho de Lucas tem cinco grandes divisões. Estas estão resumidas na tabela abaixo:
- Lucas foi companhia frequente do apóstolo Paulo, pelo menos no período que vai da época da visão macedónia de Paulo (At 16.9-10) até o martírio do apóstolo (2Tm 4.11).
- Paulo referiu-se a Lucas como médico (Cl 4.14). O interesse demonstrado por Lucas pelos fenómenos médicos fica evidente por meio da importância que ele deu ao ministério de cura de Jesus (ex. 4.38-40; 5.15-25; 6.17-19; 7.11-15; 8.43-47,49-56; 9.2,6,11; 13.11-13; 14.2-4; 17.12-14; 22.50-51). Quando Lucas discute curas e outras questões médicas, sua linguagem é muito diferente da usada pelos autores dos outros Evangelhos.
- Lucas dedicou as suas obras ao “excelentíssimo Teófilo” (lit. “o que ama a Deus – 1.3; cf. At 1.1). Esta designação, que pode ser um apelido ou um pseudónimo, é acompanhada por uma referência formal (“excelentíssimo”), possivelmente significando que “Teófilo” era um bem conhecido dignitário romano, talvez um dos que eram “da casa de César” e que se converteram a Cristo (Fp 4.22). Possivelmente, Teófilo foi um patrocinador desta obra literária e o responsável pela sua publicação. É quase certo, porém, que Lucas queria atingir um público mais amplo com a sua obra do que apenas esse homem. As dedicatórias presentes no início de Lucas e de Atos são semelhantes às dedicatórias que vemos em livros atuais. Não parecem ser uma saudação ao destinatário de uma epístola.
- Ao reconhecer que compilou o seu relato a partir de várias fontes existentes na época (1.1-4), Lucas não estava a desprezar a inspiração divina da sua obra. O processo de inspiração nunca se sobrepõem ou despreza a personalidade, o vocabulário e o estilo dos autores humanos da Escritura. Os traços singulares dos autores humanos estão sempre estampados de maneira indelével em todos os livros da Escritura. A pesquisa de Lucas não é exceção a essa regra. A pesquisa em si foi orquestrada pela Providência divina e, em seus escritos, Lucas foi movido pelo Espírito Santo (2Pe 1.21). Portanto, o seu relato é infalivelmente verdadeiro.
- O prólogo deste livro (1.1-4) sugere que ou alguns dos movimentos cismáticos já estavam a publicar evangelhos suspeitos ou que obras difamatórias haviam sido escritas contra Jesus.
- O estilo de Lucas é o de um autor académico e bem letrado. Ele escreveu como o faz um historiador meticuloso, com frequência apresentado detalhes que ajudam a identificar o contexto histórico dos acontecimentos que descreve (1.5; 2.1-2; 3.1-2; 13.1-4).
- O seu relato da natividade é o mais amplo entre os registados nos Evangelhos e, tal com o restante da obra de Lucas, mais refinado quanto ao estilo literário. Ele incluiu na narrativa do nascimento uma série de salmos de louvor (1.46-55; 1.68-79; 2.14; 2.29-32,34-35). Só ele relata as circunstâncias incomuns que cercaram o nascimento de João Batista, a anunciação a Maria, a manjedoura, os pastores e Simeão e Ana (2.25-38).
- Um tema recorrente do Evangelho de Lucas é a compaixão de Jesus pelos gentios, samaritanos, mulheres, crianças, coletores de impostos (publicanos), pecadores e outros frequentemente considerados proscritos em Israel. Desde o início do ministério público de Jesus (4.18) até às palavras finais do Senhor na cruz (23.40-43), Lucas enfatiza este tema do ministério de Cristo aos párias da sociedade.
- O realce que Lucas dá às mulheres é particularmente significativo. Desde o relato da natividade – em que Maria, Isabel e Ana recebem destaque (caps. 1 e 2) – até aos acontecimentos da manhã da ressurreição – nos quais as mulheres mais uma vez são personagens de grande importância (24.1,10) – Lucas enfatiza o papel central das mulheres na vida e no ministério do nosso Senhor (ex. 7.12-15,37-50; 8.2-3,43-48; 10.38-42; 13.11-13; 21.2-4; 23.27-29,49,55-56).
- A partir de 9.51, Lucas dedica dez capítulos da sua narrativa a relatar a viagem da jornada final de Jesus a Jerusalém. Grande parte do material dessa secção é exclusiva de Lucas. É o cerne deste Evangelho e apresenta um tema que Lucas enfatiza do início ao fim: a inexorável caminhada de Jesus à cruz. Esse era exatamente o propósito pelo qual Cristo veio à terra (cf. 9.22-23; 17.25; 18.31-33; 24.25-26,46) e ele não seria impedido. Salvar os pecadores era a sua missão como um todo (19.10).
- Este livro enfatiza a oração através de parábolas e relatos: o amigo importuno (11.5-8); o juiz iníquo (18.1-8); o fariseu e o publicano (18.9-14 – narrativa exclusiva). Além disso, menciona várias orações de Jesus. Mateus referiu-se a 3 orações do Mestre. Marcos citou 4, João, também 4. Lucas apresenta 11 momentos de Cristo em oração: No batismo (3.21); no deserto (5.16); antes de escolher os discípulos (6.12); antes de predizer a sua morte (9.18); na transfiguração (9.29); antes de ensinar os discípulos a orar (11.1); por Pedro (22.31,32); no Getsêmani (22.42-44); duas vezes na cruz (23.34 e 46); em Emaús (24.30).
- Estar com Jesus tem prioridade em relação a ministrar para Jesus (10.38-42). Sem o primeiro, não se pode realizar o segundo.
- O Evangelho de Lucas é um dos maiores tesouros da história bíblica, enfatizando o cumprimento por parte de Deus das promessas a Israel – que o “ano aceitável do Senhor” (4.19) havia chegado com o ministério compassivo de Jesus, um ministério de libertação e aceitação para o pobres e desamparados.